sexta-feira, 13 de julho de 2012


“Chegou a hora de mudar ”, diz fundador do Playcenter

O primeiro grande parque de diversões do Brasil fecha as portas no fim de julho. Conversamos com o proprietário Marcelo Gutglas, que conta por que o Playcenter vai deixar saudades

CURIOSIDADESDIVERSÃOVIDA URBANA - - 13/07/2012

Michael Jackson vista o Playcenter em 1993, Marcelo Gutglas é o último do lado direito do rei do pop. // Foto: Fernando Elimelek (arqueivo pessoal)
Por Denise Dalla Colletta
Depois de 39 anos à beira da Marginal Tietê, na zona oeste, o Playcenter anunciou o encerramento das atividades em 29 de julho. Os saudosistas não precisam se preocupar, ao menos é o que diz o fundador do parque. O boliviano Marcelo Gutglas, ainda hoje no comando do Playcenter, diz que um novo parque de diversões virá, menor e feito na medida para pais e crianças mais novas.
Um boneco gigante do King Kong, o Zé do Caixão, um casal de orças importadas da Islândia e até o rei do pop, Michael Jackson, passaram pelo Playcenter. Saiba um pouco mais sobre a história do parque e o futuro dele pelas palavras de seu idealizador.
Aproveite para contar sua lembrança do Playcenter, comente!
Por que fechar o Playcenter e abrir um novo parque?
O Playcenter encerra um ciclo e inicia outro. Em quatro décadas, construímos uma relação com a cidade e mais de 60 milhões de visitantes. Chegou a hora de mudar. Pesquisas de mercado mostram que o público familiar está carente de parques estruturados para garantir a sua diversão. Muitos parques no mundo, incluindo Legoland e Nickelodeon, já oferecem atrações para esse perfil de público. No Brasil, o Playcenter será novamente pioneiro ao adotar este modelo.
O que você pode adiantar sobre o novo parque? Algumas matérias falam sobre uma possível parceria com Maurício de Sousa, você confirma?
O conceito do novo parque é oferecer à família serviços e atrações que possibilitem uma interação entre pais e filhos. O projeto prevê brinquedos em que os pais sejam incluídos na brincadeira, desfrutando junto com seus filhos de experiências novas, dentro de um ambiente único. O novo parque terá capacidade máxima de 4.500 visitantes, oferecendo conforto e atendimento premium em todas as atrações e serviços. Sobre uma possível parceria com o Maurício de Sousa, ficaríamos muito honrados em ter os personagens dele no parque. Mas, no momento, não há ainda nenhum acordo nesse sentido.

A atriz Jessica Lange veio ao Playcenter em 1977 para o lançamento do filme King Kong // Foto: Fernando Elimelek (acervo pessoal)
Como foi o episódio do King Kong no Playcenter? 
Foram dois momentos. Em 1977, quando o filme estreou, a atriz Jessica Lange e o ganhador do Oscar de Efeitos Especiais, Carlo Rambaldi, vieram ao Brasil e visitaram o Playcenter para o lançamento do filme. Nesse momento, o boneco utilizado foi projetado e construído pelo próprio parque. Em 1979, trouxemos dos Estados Unidos o boneco original usado no filme. Ele tinha 20 metros de altura e 80 movimentos na face. Na época, foi uma grande sensação com filas quilométricas. A curiosidade foi tanta que batemos o recorde de público na época com 450 mil visitantes em julho.
O Playcenter foi palco de muitos eventos. Qual foi a maior loucura feita lá?
São vários momentos inesquecíveis, uns envolveram muita logística e infraestrutura. Além do King Kong, houve os shows das baleias Orca e dos golfinhos, inclusive o famoso Flipper. As duas baleias foram importadas da Islândia e vieram de avião ao Brasil. A montagem de toda a infraestrutura e o treinamento dos animais foi muito complexa. Lembro da chegada de brinquedos marcantes, como o Colossus, e o lançamento das Noites do Terror, algo até então inédito em um parque brasileiro. Foram marcantes os shows de Roberto Carlos, Johnny Mathis, Uri Geller e Menudo. Mas, sem dúvida, a maior sensação e cobertura da mídia foi a visita do Michel Jackson. Memorável!
Como ficou o parque com a vinda da GP Investimentos em 1995 ? E o que te fez voltar?
A associação com a GP deu um impulso enorme em toda empresa e possibilitou a expansão das Playland [equipamentos de diversão de shoppings] para a Argentina, Uruguai e Portugal, a criação de uma cadeia de 30 boliches e o Hopi Hari. Foi um grande desenvolvimento e aprendizado. Em 1999, me afastei das atividades [no Playcenter]. E, em 2002, por motivos estratégicos a GP optou por sair do setor. Movido pela paixão do negócio, decidi retomar o Playcenter e a operação das Playland Brasil.
Na história do parque, temos dois momentos queda na movimentação: primeiro no final da administração da GP e, recentemente, pouco antes do anúncio do fechamento. Quais foram os problemas?
Em quase 40 anos de atividades o Playcenter obviamente passou por vários momentos, tanto de queda como de êxitos. Não poderia ser diferente, mesmo porque, nessas quatro décadas, a própria economia do Brasil passou por essas oscilações. Os momentos de queda sempre foram superados com criatividade e investimentos. Recentemente, inclusive, estamos com excelente público, nunca abaixo dos 1,5 milhão de visitantes por ano.
Conversei com alguns funcionários do Playcenter que falam de você com lágrimas nos olhos. Qual a fórmula para o negócio da diversão?
Fico muito feliz em saber que conto com a simpatia dos funcionários e sinto esse carinho todos os dias ao chegar no parque. O Playcenter não teria uma história de quase quatro décadas de sucesso em entreter pessoas de todas as idades se não fosse a alegria, a disposição e o comprometimento de toda a equipe. Todos os colaboradores que passaram por aqui ou ainda estão conosco foram e são fundamentais para fazer do Playcenter um símbolo de parque de diversão no Brasil. O segredo, portanto, é o envolvimento de todos em entregar ao público a melhor experiência. O Playcenter é uma escola para os profissionais que nele trabalham. Dei muita atenção ao relacionamento com os funcionários. A fórmula? Gente feliz faz as pessoas ficarem felizes.
*É comum ouvirmos que diversão mudou muito, que as crianças se divertem com outras coisas, como videogames. O que você acha disso?
Claro que as opções de lazer vão mudando. Os hábitos e costumes, a comunicação, as demandas, os ambientes, também. No entanto, o ser humano tem a socialização como uma das suas necessidades básicas. Por isso o sucesso dos shoppings, dos eventos musicais, do réveillon na Paulista, das torcidas esportivas, e assim por diante. E os parques temáticos e de diversão fazem parte dessa categoria.

O que um parque de diversões precisa para sobreviver: investimento constante em novas atrações, publicidade, patrocínios?
Todos esses ingredientes são indispensáveis para o sucesso de qualquer empreendimento, mas o segredo é entregar uma boa experiência ao visitante e fazer com que tenha vontade de voltar ao parque.
Qual foi o último brinquedo comprado ou alugado pelo Playcenter?
Este ano, para as Últimas Noites do Terror, trouxemos o Xtreme.
Tive a informação de que são quase 20 os donos dos terrenos que o Playcenter ocupa. Qual o número exato?
Por questões contratuais não posso revelar detalhes a respeito do aluguel do terreno onde o parque está localizado.
O que mais vai dar saudade do Playcenter?
Levarei comigo a memória de tudo o que realizei com o Playcenter nesses 39 anos, mas não penso neste momento como uma despedida. Para mim, é a nova fase de uma história que prossegue. O Playcenter já proporcionou alegria a mais de 60 milhões de visitantes de diversas gerações e ainda proporcionará muita alegria a pais e filhos. Novos projetos e desafios fazem parte de mim.

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